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A mostrar mensagens de setembro, 2015

"A rapariga que quer morrer"

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http://psi-norte.blogspot.pt/2015/07/a-rapariga-que-quer-morrer.html " "Laura" é uma jovem belga, de 24 anos, que sofre de depressão, e que é acompanhada por um psiquiatra há cerca de 3 anos. Desde a infância que diz ter pensamentos suicidas. Neste sentido, o psiquiatra que a acompanha sugeriu que Laura recorresse à eutanásia, o que terá sido aceite pela jovem." Fiquei em choque. O resto do artigo questiona, e bem, a linha de trabalho deste psiquiatra. Mas de repente...  Laura sofre de depressão profunda e pensa em matar-se desde criança. Depressão profunda. A maioria das pessoas, felizmente, não faz ideia do que isto realmente quer dizer. Depressão profunda significa um sofrimento profundo, permanente, sem tréguas. Uma falta de sentido para a vida que soterra qualquer movimento, seja ele físico ou mental, com um peso colossal.  O meu repente virou esta história ao contrário na minha cabeça - então se cada pessoa tem o direito a escolher viver

estranhospsicólgos

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Isto de ser psicóloga é mesmo muito interessante. Lidamos com o que há de mais humano nos outros e em nós, todos os dias. No entanto, somos estranhos. Vistos como estranhos. Talvez seja a mesma coisa. É bom estar com outros psicólogos, ver-nos como gente "normal", dá-me vontade de rir esta expressão, "gente normal". O meu pai costumava dizer que a escola nos ensina tanta coisa sobre tanta coisa e nada sobre as pessoas e o seu funcionamento psicológico. É verdade, sempre concordei que é uma falha, mas até hoje não sei como poderia ser colmatada. No outro dia, tentava explicar a uns pais que o facto do seu filho estar atrasado na leitura e escrita e a sua imaturidade emocional estavam ligados, que a linguagem escrita é simbólica, que ele precisa de limites para criar fantasia e fantasia para criar símbolos. Às tantas chegámos ao ponto da conversa sobre ele dormir com a mãe (às vezes), e eu digo que ele deve saber que o lugar ao lado da mãe é do pai e não

Esculturas transparentes de Jin Young Yu

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"A artista coreana Jin Young Yu (...) diz que os seus trabalhos são sobre as pessoas invisíveis e que têm uma existência transparente. Que em vez de conviverem com os outros, preferem manter uma certa distância e ficarem no seu espaço." Escolho imagens que me dizem algo, mas a que me gritou ficou de fora. Há coisas que não se podem mostrar ao mundo. Esta fala comigo sem me gritar. Fala de quem tem de proteger coração e sexo, de quem tenta proteger fechando-se, mas não conseguindo evitar que as mãos dos outros entrem. Fala-me de sofrimento contido, encarcerado, mas que apela ainda assim. O olhar em frente, a expressão carregada de solidão, os outros presentes, impossíveis de ver e tocar, mais como assombrações do que como abraços. Talvez as pessoas transparentes não tenham a escolha da distância, talvez essa seja a sua única realidade possível. Enquanto as mãos têm de tapar, não se podem dar. O vazio aparente esconde o que não se pode ver. Será o cão a espera

Outono

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Segundo a medicina tradicional chinesa, o Outono é a altura em que a energia se volta para dentro. Depois da expansão energética do verão, é tempo de introspecção. Deixar para trás o que já não é. Extrair aprendizagens. Voltar à essência. Condensar a energia que vai ser necessária durante o inverno. Talvez seja este o motivo pelo qual as pessoas que estão presas no passado, sentem esse peso mais nesta altura do ano. Deixar as coisas ir, abrir mão, limpar a casa das tralhas inúteis, reconhecer o que é realmente importante - para alguns de nós tudo isto parece impossível. Agarramo-nos ao que está à mão como se tudo fosse vital, carregamo-nos de bagagem que se torna pesada de arrastar pelos dias, avançar é difícil, viver cansa. A vida citadina afastou-nos das estações do ano, maldizemos tanto o calor como a chuva, esquecemo-nos de que não só a terra e as plantas vivem em ciclos. Humanos são bichos, por mais que nos escondamos atrás dos ares condicionados. A medicina tradicional chi

Janelas

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Escolhi janelas para pôr no meu site e na minha página de facebook. Queria algo que simbolizasse o que acontece no processo terapêutico. A escolha não era fácil, e quando me lembrei das janelas agarrei-me a essa ideia e andei a ver imagens de janelas no google durante mais tempo do que gostaria de admitir. Abrir janelas. Ver lá para fora. As portas pressupõem sair de um sítio e ir para outro, e a psicoterapia também pode ser isso, mas não necessariamente. O nosso sítio, a nossa casa, o nosso eu, a nossa identidade é algo a que nos agarramos mais do que a qualquer outra coisa, mesmo à custa de sofrimento e risco. Por isso a mudança custa, demora, sabemos quem somos, mais ou menos, mas sabemos, reconhecemo-nos. A ideia de nos perdermos é mais assustadora que qualquer outra, talvez até mais assustadora que a de morte (para quem acredita que a morte é de facto o fim), pois perdermo-nos traz a ideia de continuarmos a viver, mas com uma incógnita de tal forma enorme que não pode ser equ

Bem vindo estranho humano

Por favor não se ofenda de o tratar assim. Considero-me uma estranha humana entre muitos. E por favor não considere a palavra estranho como um insulto ou provocação. É a complexidade da humanidade que me atinge sempre que penso em pessoas. E eu penso em pessoas quase o tempo todo. Fascinantes humanos, imprevisíveis, profundos, construções frágeis e sólidas, tudo ao mesmo tempo, poços de paradoxos. Mergulhei em mim e depois nos outros. Abro e fecho portas, tento ajudar outros a abrir janelas. De mãos dadas, lado a lado, não, não é bem assim, é diferente. É um caminho, sempre único, sinuoso, maravilhoso. Perdoe-me a tentativa de poesia. É a inauguração, sinto-me um pouco emocionada. O que terei para escrever depois?