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A mostrar mensagens de outubro, 2015

estranhasbrincadeiras II

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Pedro and Rita, de Kerry Evans O Halloween parece que chegou a Portugal e veio para ficar. Os miúdos mascaram-se, há festas temáticas, o tema surge em todo o lado. E o tema é a morte. Mas a morte brincada, não a real dos funerais, mas a da fantasia, dos fantasmas e bruxas, da magia, da diversão. Podemos divertir-nos à volta da morte? Parece que sim. Que ideia mais estranha. Não é a morte o que todos tememos? Será o tema o medo? O que fazemos aos medos? Um pai inventava histórias para o seu filho antes dele adormecer, histórias com monstros. O filho pedia sempre histórias mais assustadoras. O pai perguntava: como é que ele não tem pesadelos? Porque os medos dos pesadelos estavam envoltos na segurança da relação com o pai e na fantasia das histórias partilhadas. Porque brincavam. Como os contos de fadas, cheios de violência, que sobrevivem aos tempos e ainda se contam às crianças - o lobo mau, a rainha má, os feitiços, as mortes. As crianças não costumam ter pesadelos com as hi

estranhasbrincadeiras I

- pum pum, estás morto! - ahhh, morri! e agora sou um fantasma e vou atrás de ti uuuuu - não estamos a brincar aos fantasmas, eu sou o polícia e matei-te, pum pum, vá, morre - arrghhh, morri! e transformei-me num zombie! e vou comer-te! - oh mãe, ele não morre! - ai que brincadeira tonta, vão lá brincar a outra coisa - mas é halloween, eu quero ser um vampiro, e vou morder-te o pescoço mãe, e ficas vampira como eu - vão mas é tomar banho que estou a acabar o jantar - mas nós estamos a brincar aos polícias e ladrões! vá, morre, pum pum - daqui a bocado fico uma bruxa e transformo-vos aos dois em sapos, e depois têm de esperar por duas princesas lindas para vos dar beijinhos e voltarem a ser príncipes - blharg, não quero beijinhos, quero ser um sapo! o pai não vem jantar? - está quase a chegar - quando o pai chegar ele vai ser o polícia e vai te matar - não, ele vai ser um zombie vampiro fantasma como eu e nós nunca morremos! - não, sou um gigante esfomeado que se não

Smother

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Smother by Daughter (with lyrics) Porque há quem não possa amar, porque amar é despir e despir é sentir e sentir é querer tudo o que lhes faltou. Abafam. Querem tudo, pedem, exigem, sofrem com a perda de não obter o que é impossível de ser dado por outro. Outro que também quer, mas que se esgota no infinito buraco negro de necessidade de quem não foi saciado e parece nunca poder ser. E a coisa repete-se. As relações falham, a solidão pesa, a falta de esperança instala-se. Talvez fosse melhor nunca ter saído da barriga da mãe, onde a fantasia da dádiva, do envolvimento protector, da simbiose criadora, ainda pode existir. Para alguns, é preciso fazer-se nascer e alimentar-se a si próprio, é preciso reinventar a barriga da mãe para ao mesmo tempo sair dela e a carregar dentro de si. Para que as relações sejam prazer e não desespero, para que os filhos se tornem eles e não o alimento da mãe, para que não seja preciso ir embora de fininho. Para cantar outra canção. Im wast

estranhosespelhos

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É invevitável. Encontramo-nos nos outros.

Aldeia

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" Les Vessenots  à  Auvers"  de  Vincent van Gogh Precisamos de voltar à aldeia.  Fiz um trabalho durante o mestrado sobre crianças com pais separados. Tanto a ciência como a sabedoria popular sabem como o divórcio é uma coisa má, principalmente para as crianças. Alguns até louvam os bons velhos tempos em que as famílias não se separavam, em que eram o pilar da sociedade, pilar tão ligado à igreja e à ditadura como à vontade das massas. A vida era assim. E pronto. Fim de história. Falamos mal das pessoas "de hoje em dia" que se separam por dá cá aquela palha, que não se esforçam para que as coisas resultem, dos jovens que só querem facilidades e prazeres imediatos, antigamente é que a vida era dura.  E um dia, há uns anos, encontrei o oásis no deserto, em forma de artigo numa revista Cais, sobre como a família não só não está em crise como está melhor que nunca. Porque as "pessoas de hoje em dia" procuram realmente a felicidade, as relações

SPC - VO

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Psicologia para a comunidade* O Serviço de Psicologia para a Comunidade da Voz do Operário abriu portas em Junho. Desde então estamos a fazer um trabalho intensivo de contacto com as organizações locais nas duas áreas geográficas de Lisboa onde a Voz do Operário se encontra e onde funciona o serviço – Graça e Ajuda/Alcântara. Temos sido bem recebidos por todos. O bom nome da Voz do Operário precede-nos e sente-se a confiança que os técnicos têm na nossa instituição, comprovada pelos utentes que já começaram a chegar. Algo tem sido constante nestes contactos – todos os técnicos falam das dificuldades sentidas em termos de sítios para onde encaminhar pessoas que não têm rendimentos para pagar consultas de psicologia no privado, dado que o Serviço Nacional de Saúde não dá a resposta necessária e suficiente. Os próprios psicólogos dos Centros de Saúde procuram respostas para onde enviar pessoas que precisam de acompanhamentos sistemáticos e prolongados. É um sinal evidente do e

estranhaspolíticas

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A Ordem dos Psicólogos Portugueses olhou para a realidade e constatou: existem 601 psicólogos no Serviço Nacional de Saúde. Segundo as recomendações internacionais devia existir um psicólogo por cada 5000 habitantes. Feitas as contas, faltam cerca de 1600 psicólogos nos hospitais e centros de saúde. A situação é grave, considerando que Portugal é dos países com maiores taxas de doença mental, nomeadamente ansiedade e depressão.  Estes são os factos. Quais as opiniões? Tristemente ainda prevalece uma certa ideia de que isso da psicologia é uma coisa "inventada", que antigamente não precisávamos disso para nada, que aquilo a que chamamos bullying e déficit de atenção são as coisas normais que as crianças de antigamente faziam e ninguém se preocupava. Que para essa coisa da ansiedade basta relaxar e para a da depressão uns copos ajudam. Concordo. Sempre existiu gente infeliz e com problemas. Concordo que actualmente damos importância a coisas que antigamente ningué

Repetição

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A doença é a repetição. Não a rotina tranquilizadora. A repetição do que nos prende e faz mal. Saber o resultado e não conseguir mudar. Ficar em esquemas de funcionamento conhecidos, familiares, que eventualmente servem algum propósito muitas vezes inconsciente, necessário, mas também maléfico. Algumas destas situações são visíveis aos olhos dos outros e do próprio. O pai da Antónia era violento com a mãe. Antónia junta-se com um homem abusivo. O Fernando continua a juntar-se com companheiras que acabam por ficar dependentes dele para tudo e quando isso acontece ele perde o interesse. A Joana mantém o mesmo emprego que odeia, diz que não tem mais hipóteses, não procura ofertas de emprego, queixa-se do trabalho o tempo todo. O Francisco já tentou entrar naquele curso duas vezes. Quer mesmo fazer aquele curso, mas no tempo em que devia estar a estudar para os exames, tem sempre muito que fazer. Desta vez será diferente? No dia mundial da saúde mental, há que l

Fulfillment center

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Imagem de  Pedro Barateiro. Palmeiras Bravas/The Current Situation  http://pt.museuberardo.pt/exposicoes/pedro-barateiro-palmeiras-bravasthe-current-situation Deparei-me com estas obras de Pedro Barateiro no CCB e tiveram grande impacto em mim. Não sou de andar de telemóvel em riste a fotografar tudo, mas estas queria trazer comigo. Eram vários quadros, com o mesmo título e rabiscos diferentes. Na altura não pensei muito sobre porque estas obras me atraíram tanto. Nem quando resolvi utilizar esta imagem no meu site. Mas teria de chegar a hora, depois de sentir, para pensar e escrever. fulfilment   noun   [ U ]   (STH YOU DO) C2   the ​ fact  of doing something that is ​ necessary  or something that someone has ​ wanted  or ​ promised  to do fulfilment   noun   [ U ]   (FEELING) C2   a ​ feeling  of ​ pleasure  because you are getting what you ​ want  from ​ life http://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/fulfilment Este foi o significado que dei à

Crianças bem-educadas

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" (...) os pacientes não reagiram a um trauma psíquico porque a natureza do trauma não comportava reação, como no caso da perda obviamente irreparável de um ente querido, ou porque as circunstâncias sociais impossibilitavam uma reação, ou porque se tratava de coisas que o paciente desejava esquecer, e portanto, recalcara intencionalmente do pensamento consciente, inibindo-as e suprimindo-as. São precisamente as coisas aflitivas dessa natureza que, sob hipnose, constatamos serem a base dos fenômenos histéricos (por exemplo, os delírios histéricos de santos e freiras, de mulheres que guardam a castidade e de crianças bem-educadas)." Freud e Breuer. (1893). Sobre o mecanismo psíquico dos fenómenos histéricos: comunicação preliminar.  E lembrei-me do Filipe. Menino de 7 anos que avaliei há anos numa escola da Amadora. Filipe era filho de um pai toxicodependente e a mãe tinha-os deixado quando ele ainda não tinha 2 anos de idade, altura em que ele passou a viver c