Bom ano?



Pois foi, saltei a passagem de ano aqui no blog e não vos desejei um bom ano novo. Foi de propósito. Agora estamos quase no fim de Janeiro e tenho umas perguntas para vocês:

Então essas resoluções?

Ainda não?

É agora?

Ops! Sim, agora, agora é que vai ser!

É agora!

É? Pois é. As resoluções que conseguimos fazer já as fizemos. Ou estamos a trabalhar activamente para isso. As outras, as que vão sempre ser "agora", essas é escusado continuarmos a iludir-nos. Repetimos que precisamos de "força de vontade", que temos é de nos "organizar", que ainda não deu mas "vai ter de ser". Mas afinal são coisas que queremos ou que estamos a tentar impor a nós próprios? Voltamos a pensar na vida. Claro que queremos, claro que quero. Mas...

Mas há coisas que até parecem simples para os outros, e para nós não são. Há coisas que não parecem simples para ninguém, mas que metemos na cabeça que temos de as fazer, que nos vão fazer mais felizes. Mas mais importante, há coisas que queremos mudar e não conseguimos. E todos os chavões do mundo não nos servem de auxílio. 

Mas porque é que não conseguimos mudar?

Porque fomos construídos desta forma. Aprendemos maneiras de funcionar, de nos relacionarmos, de sermos gente, desde que nascemos. Não se mudam décadas de existência no tempo das doze badaladas da meia noite que traz o novo ano. E também porque muito do nosso funcionamento assenta em coisas que estão escondidas no inconsciente. Eu sei, custa a engolir esta parte, mas é verdade. Não somos assim tão racionais como gostamos de pensar. Há forças que nos fazem mover que não conhecemos nem entendemos. Por muito que sejamos tão bons a arranjar justificações lógicas para tudo o que fazemos.

Com isto tudo até parece que quero que desistam, que se resignem. Mas claro que não. Principalmente se o que querem mudar é algo que vos tira o prazer de viver. Só que mudar sozinho é muito difícil, ou mesmo impossível. Se aprendemos a ser gente, esta gente que somos, na relação com outras pessoas (sim, os pais), então precisamos de novas relações para mudarmos. As relações são essenciais nas nossas vidas, e podem ser tão destrutivas quanto maravilhosas. Mas só há um tipo de relação em que somos nós que decidimos quando começa, quando acaba, como corre, e que serve especificamente para nós nos sentirmos melhor - a relação terapêutica. 

Gostava de conseguir contar-vos todas as vezes que vi gente a melhorar com uma psicoterapia. Não é magia, mas funciona. Por isso, se "agora é que é", talvez agora seja uma boa altura para perceber que há coisas que não mudamos sozinhos. 

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