"Se ela se portar mal, ponho-a na Super Nanny"

foto retirada do site https://amorexigente.org.br

Clara (nomes fictícios) entra no meu gabinete e diz, de cara séria: "Agora tenho mais uma coisa para dizer à Rita." Refere-se à sua filha de 7 anos. "Se ela se portar mal, ponho-a na Super Nanny." E ri-se. 

Clara tem consultas regulares comigo há cerca de um ano, primeiro semanais e agora quinzenais. Mas não é ela a minha cliente. Ela veio pedir ajuda para a sua filha, que tinha comportamentos de oposição constantes em casa. 

Clara faz a piada e o que eu a oiço dizer é: eu sei o que custa educar uma filha em condições difíceis, sei que às vezes é preciso ajuda, e sei que as mudanças levam tempo e precisam de suporte. E ela sabe que eu sei o mesmo porque estamos a trabalhar nisso juntas. O trabalho tem sido produtivo, com avanços e retrocessos, mas com uma evolução positiva constante. Clara teve oportunidade de reflectir sobre a sua actuação enquanto mãe e sobre o que a afectava ao cumprir esse papel. E pode reflectir e mudar porque o fez num contexto protegido, de não julgamento, de suporte e de trabalho conjunto. Ambas tivemos dúvidas pelo caminho (ainda as temos), ambas sabemos que não há receitas (nem milagrosas nem das outras). Vi a Rita uma vez. Nunca fui a casa, nunca assisti a uma birra. Mas tenho visto a Rita crescer, através dos olhos da sua mãe. E tenho visto a Clara crescer também, ocupando o lugar que era seu, e que no início lhe estava dificultado por obstáculos que foi conseguindo ultrapassar.

O aconselhamento parental é uma forma de intervenção que pode ser feita por si só, como neste caso, ou em complemento com o acompanhamento psicoterapêutico a crianças e adolescentes. Já é cliché dizer que ser pai/mãe é tarefa árdua nos dias de hoje. Se os adultos se sentem perdidos, desprotegidos, frágeis, dificilmente conseguem fazer face aos desafios constantes da parentalidade. O apoio do psicólogo pode servir para diminuir sentimentos de culpa e de incapacidade, para dar suporte emocional, para ajudar a reflectir sobre causas e consequências, encontrar padrões, e promover mudanças que são iniciativa dos próprios pais e que partem de um lugar de crescente solidez. Aceitando que vamos falhar (pais, filhos, psicólogos), mas que vamos sempre continuar a tentar. Porque os pais (a grande maioria dos pais) não desistem dos filhos. E os psicólogos (a grande maioria dos psicólogos) não desistem das crianças e das suas famílias.

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