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A mostrar mensagens de abril, 2016

A cama dos pais - parte III (e última)

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Henri de Toulouse - Lautrec  "Le Lit" Nos dois primeiros textos falei do período de vida até aos 6 meses. O que acontece depois desta fase? Até aqui os autores referem-se maioritariamente a uma relação entre mãe (ou quem faz o seu papel) e bebé. Mas todos sabemos como a existência de um pai é saudável e organizadora para as crianças. É a partir dos 6 meses, quando o bebé já está apto a de facto se relacionar com os outros e o mundo, que o foco passa a estar na tríade - no 3.  Portanto, o bebé passou da fase de dependência absoluta para a fase de dependência relativa (Winnicott). Ele comunica as suas necessidades à mãe para que esta as venha satisfazer. Sente a ausência, sente o desejo, "chama", e a mãe responde. É quando estes mecanismos estão bem estabelecidos que o bebé está pronto para lidar com aquilo a que na psicanálise se chama a triangulação. O triângulo é constituído por mãe, pai e filho. E é a partir desta tríade que o bebé começa a organi

A cama dos pais - parte II

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In Bed de Claude Le Boul - oil on canvas Na parte I falei de como se caracteriza psicologicamente o recém-nascido, num estado de pré-existência psíquica, ainda sem se diferenciar do mundo e dos outros. Até aproximadamente aos 6 meses de idade, o bebé apenas foi capaz de se relacionar com o que Spitz chama de pré-objectos - a mãe não é uma entidade inteira, é a mãe boa que sacia as necessidades e a mãe má que as frustra. Klein chama a isto, simbolicamente, o seio bom e o seio mau. O bebé, ainda não sendo um Eu psíquico uno, também ainda não consegue integrar as experiências de prazer e desprazer num objecto exterior único. Com a repetição das experiências, estas começam a ser integradas através da memória, e o bebé começa a conseguir integrar os pré-objectos bons e maus e constituir uma imagem de mãe una - boa e má ao mesmo tempo. É aqui que o bebé começa de facto a relacionar-se, pois já se sente um Eu diferenciado do exterior - só na existência de um Eu e um Tu pode haver

A cama dos pais - parte I

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Pintura de Safet Zec Toda a gente tem uma opinião. Além da opinião, muita gente tem filhos e os filhos são todos diferentes, mesmo os dos mesmos pais. A uns (pais) sabe melhor ter os filhos na cama, a outros pior. Mas o que me traz a escrever sobre este tema é que, a meu ver, falta informação a esta discussão.  Não quero vir trazer nem receitas, nem manuais, nem dizer o que está certo e errado. Pretendo tentar esclarecer porque os psicólogos e os pediatras falam do marco dos seis meses, o que acontece antes e depois, e esperar poder contribuir para que cada um, pai e mãe, possa decidir. Comecemos pelo início, então. O bebé nasce. Nasce biologicamente no momento do parto, momento em que pode viver fisicamente separado da sua mãe biológica. Mas o ser humano que ali nasceu ainda não o é no pleno sentido do ser psicológico. Ou seja, o bebé nasce mas não sabe que nasceu, não sabe que existe, que tem uma pele que o separa do mundo e dos outros. Nasce num estado a que difer