Boundaries III

Foto de Weather Witten


A polémica estalou quando o facebook censurou a publicação desta foto. Aparentemente houve reacções de choque. O que veio a seguir foram as reacções de apoio. Não contarei a história, que podem ler nos links, mas resumidamente, um pai tenta consolar o seu filho doente, com diarreia, vómitos e febre persistentes, e a mãe fotografa e publica no seu facebook. 


Reprodução The Barefoot Mum - foto de Kelli Banister



Um cenário semelhante, mas aqui uma mãe com a sua filha doente, a foto é tirada pelo filho de 5 anos e a mãe publica no seu facebook. A empresa não censura, os comentários são todos de apoio. 

Tanta coisa para reflectir...

A terceira ideia que tive veio de alguns comentários que li. Eram comentários de apoio, em que pessoas relatavam que também elas tomavam banho com os seus filhos, com diferentes idades conforme os comentadores. E veio-me à memória uma mãe que me contou que às vezes se metia no banho com o seu filho de 11 anos para conversar. 

Claro que um bebé precisa de contacto físico, de pele, de colo, de toque. Ninguém questiona isto. Uma criança pequena também, é cuidada pelos pais, o banho, o vestir e despir, o colo, o beijo e abraço, as festas. Mas o senso comum diz-nos que estas coisas vão mudando ao longo do crescimento. Ninguém acha normal ir limpar o rabo ao filho adolescente (a não ser em situações excepcionais). As crianças, a partir de certa altura começam a fechar a porta da casa de banho, a sentir vergonha de se despirem em público, a não quererem que os pais entrem de qualquer maneira no chuveiro. Faz parte do crescimento, da autonomização, como comer e vestir sozinho, ir à rua, decidir coisas por si. 

Nenhum manual de parentalidade diz em que idade é que se deixa de se poder tomar banho em conjunto. Até parece um pouco absurdo. Penso que isso acontece porque a maioria dos pais tem esse bom senso e ajusta-se ao crescimento dos filhos. O problema é que alguns não o têm. Por não quererem ver os filhos a crescer, porque precisam deles bebés, porque querem manter-se como as figuras privilegiadas de relação, por recearem a intimidade dos filhos, por um enorme número de diferentes motivos - alguns pais não se ajustam. Alguns pais não fecham a porta e não permitem que os filhos fechem a porta, mantendo-os numa exposição pouco saudável. Lembro outra história que ouvi, do jovem de 17 anos que dormia com a sua mãe. Este jovem estudava muito, tinha óptimas notas e não tinha vida social. Pensei que se este jovem tirasse a cabeça dos estudos e descobrisse a sua própria sexualidade, ver-se-ia num problema enorme de ter de lidar com a proximidade física de uma mãe que iria impedir qualquer vivência do desejo. 

Deixar de entrar no chuveiro, fechar a porta, permitir a intimidade, é permitir o espaço onde cada um é dono e senhor do seu corpo, onde aprende a respeitá-lo, a respeitar-se, a ouvir-se sem outras interferências, a aprender-se, a conhecer-se. Fechar a porta é permitir o espaço, solitário por definição, onde nasce a fantasia e o desejo. Não há uma idade definida, como não o há para deixar a fralda ou a chucha, ou para começar a usar o garfo e a faca ou a andar de transportes sozinho. Mas há limites razoáveis. Há limites saudáveis. O toque físico continua sempre, o beijo, o abraço, a festa no cabelo, a palmada nas costas, o amor flui pelo corpo como pelos olhos e pelas palavras. Mas o amor que se vive na intimidade do corpo muda qualitativamente com o crescimento. Quando os pais permitem aos filhos criar as suas fronteiras saudáveis, estão a ajudá-los a serem futuros jovens e adultos confortáveis com o seu corpo e com o contacto com o corpo de quem escolherem. 


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