O que seria da vida se tudo corresse como devia?

Chego 20 minutos antes da hora. Uma senhora abre a porta do prédio e eu subo ao 3º andar. O meu ex liga-me a dar-me os parabéns, ainda estou ao telefone quando saio do elevador. À porta da clínica, 3 pessoas. Assim que desligo, o homem pergunta "É a dra. Maria João?" Respondo que sim. "Nós vimos para si". "Ah, bom dia", respondo, "e ainda não chegou ninguém?" Constato o óbvio com a pergunta inútil. O casal, em pé ao pé da porta, é suposto trazer uma menina a quem vou fazer a avaliação, mas não a vejo. A outra mulher está sentada nas escadas. "Isto hoje está complicado", diz a mãe, "ela não queria vir. Desejo-lhe boa sorte hoje com ela. Do fundo do coração, boa sorte." Resolvo ligar a quem nos vem abrir a porta - está a caminho. A mulher das escadas pergunta se eu estava a falar com a sua psicóloga, digo que sim. "Ela deve se ter esquecido de mim". Digo rapidamente que não, que ela me disse ao telefone que ia ter uma pessoa agora. O pai entretanto desce para ir ter com a menina fugida.

A luz de vez em quando apaga-se, mexemo-nos para a voltar a ligar. A mãe conversa comigo, as duas em pé ao lado da porta fechada. A menina de vez em quando grita e reclama lá em baixo. A mulher sentada nas escadas escreve intensamente num caderno.

Passado um bocado chega a psicóloga, sobe de elevador com o pai e a criança que finalmente vejo. Traz um cão pequeno por uma trela. Entramos todos. Já sei qual a sala que vou usar, mas é a primeira vez que lá entro. Digo aos pais e à menina para entrarem também, mais o cão, procuro onde poisar as malas, tiro o casaco, acendo o candeeiro ao lado do sofá e sento-me em frente a eles.

No fim do início surreal, a menina colabora, a avaliação faz-se, o trabalho corre bem.

Há inícios interessantes. Primeira consulta na nova clínica. Quarenta e um anos de idade. Para relembrar mais tarde.

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