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O bebé. O casal. A aldeia. A estrela.

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http://coolmom.info/pt/pages/490970 O Natal é muita coisa diferente para diferentes pessoas. Mas religiões à parte, o Natal entrou nas tradições da maioria como uma comemoração da família. A família é essa coisa que leva muitas pessoas a escrever muitas coisas. Que isto já não é o que era, que está tudo pior, são os divórcios, os pais que trabalham demais, as crianças que têm coisas a mais e tempo a menos. Prendemo-nos ao modelo de família tradicional e achamos que esse é que tinha tudo resolvido e direitinho e que produzia crianças / futuros adultos saudáveis.  Pois. O mundo gira, a humanidade muda, os tempos são outros. Mas continuamos todos a ser gente. E todos, todos (excepto uma ínfima quantidade de gente doente) queremos o melhor para os nossos filhos.  Por isso lemos estas coisas que os psis escrevem. Queremos ser bons pais. Mas também queremos ser livres, realizados no trabalho, ter relações conjugais felizes, vidas sociais que nos preenchem. Será tudo assim

Já pensou em oferecer consultas de psicologia pelo Natal?

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A Woman Dragging a Man (Study #1), 1994, de Warren Criswell http://www.warrencriswell.com/collection-rockysapp.html Somos tão bons a pensar os problemas dos outros. A começar pelos psicólogos, claro! Mas os outros, os amigos, o familiares, nós todos, olhamos para as vidas dos outros e os problemas parecem-nos claros, as soluções óbvias. Precisas de sair, apanhar ar, precisas de arranjar um(a) namorado(a), esquece lá isso, não penses mais nisso, cuida de ti, alimenta-te, não comas tanto, devias fumar menos... E quando a coisa do outro parece tão má que não dá a volta nem por nada, há quem aconselhe que o outro vá ao psicólogo. Há até quem se ofereça para marcar a primeira consulta, para ir junto, para pagar. As pessoas (ao contrário do que alguns sentem) realmente preocupam-se e querem ajudar. Já pensou em oferecer consultas de psicologia pelo Natal? Sim? Não o faça. A decisão de ir a um psicólogo, de iniciar terapia, é uma decisão muito pessoal no sentido da autonomia. Nunca

Natal incorrecto

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Foto de http://www.galenoalvarenga.com.br/artigos/por-um-natal-diferente Ai... que vou ser tão politicamente incorrecta... Mas há coisas que às vezes é preciso dizer. E ouvir.  Portanto, é Natal. Tempo de comemorar a família e a comunhão (com ou sem religião). É também tempo de lembrar os avós que morreram, os Natais mágicos da infância, aquilo que se perdeu. E quem goza de boa saúde lembra o passado mas comemora o presente. Porque o presente está cheio, pleno, num papel diferente mas mantendo a magia do Natal para as crianças de agora, ou para os adultos, mas sempre para e com alguém. Juntos. Então porque tanta gente se sente só nesta altura? Em tempo de celebrar a paz, de sermos caridosos, de pensarmos em quem tem menos, muito menos, tão menos... alguns de nós sentimo-nos vazios. Separados. Isolados. Tristes. Uma tristeza difícil de explicar, quando toda a gente, mesmo o mais desconhecido dos desconhecidos na rua, é capaz de nos desejar boas festas e bom ano e paz e amor

Psicólogos infelizes

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Imagem do site http://www.netdoctor.co.uk O meu avô era médico. E um dos piores "doentes" que já vi. Por exemplo, depois de tirar um rim, só bebia as litradas de água obrigatórias porque alguém o obrigava. Um médico que não segue recomendações dos outros médicos não parece assim uma coisa muito má. Continua a ser bom médico. Aliás, é quase coisa de super-herói... Mas e um psicólogo? Ou psiquiatra, ou qualquer profissional da saúde mental? Se alguém nos souber ansiosos, deprimidos, com uma fobia, ou insónias, se roemos as unhas, ou não conseguimos deitar nada fora, se acabámos de nos divorciar, ou morreu-nos a avó, se vemos pornografia, ou discutimos com o marido no supermercado, ou o filho faz birras no supermercado, ou não temos filhos, ou somos gays, ou não falamos com o nosso pai, ou....  Há um motivo para os psicólogos / psicoterapeutas não falarem da sua vida pessoal aos clientes: a terapia é do cliente, não é nossa. Estamos lá para ouvir e centrarmo-nos naquil

O adolescente barulhento

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foto do site http://www.michaelswerdloff.com/boyhood-an-inside-look/ O adolescente no café fala alto. Dá show. Sente-se uma tensãozinha entre os três rapazes sentados à mesa na esplanada, que se riem juntos, mas que também se batem na brincadeira, perto da fronteira da dor física e narcísica. U m dos rapazes pergunta-me educadamente se pode tirar uma cadeira e senta-se junto aos outros.  A rapariga com o brinco no nariz e a maquilhagem nos olhos intervém na conversa com a maturidade que falta aos rapazes. Eles baixam o tom, segredam, ela pergunta o que foi, ele reclama "Estás a meter-te na conversa!", ela responde "Estamos todos aqui a conversar, a conversa é de todos, não é só de alguns." O adolescente gaba-se de como gamou um maço de tabaco a alguém. Ela "Estás a contar isto aqui e toda a gente a ouvir?"  A velhinha na outra mesa olha-os em silêncio com um ar inquisidor.  Ele continua a gabar-se, como ainda desafiou o roubado a revistá-lo e como a

Boundaries III

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Foto de Weather Witten https://www.facebook.com/heatherwhittenphotography/posts/10154233751958274:0 http://ionline.sapo.pt/511028 A polémica estalou quando o facebook censurou a publicação desta foto. Aparentemente houve reacções de choque. O que veio a seguir foram as reacções de apoio. Não contarei a história, que podem ler nos links, mas resumidamente, um pai tenta consolar o seu filho doente, com diarreia, vómitos e febre persistentes, e a mãe fotografa e publica no seu facebook.  Reprodução The Barefoot Mum - foto de Kelli Banister http://www.paisefilhos.com.br/pais/foto-e-desabafo-viralizam-ao-mostrar-um-dos-lados-dificeis-da-maternidade/ Um cenário semelhante, mas aqui uma mãe com a sua filha doente, a foto é tirada pelo filho de 5 anos e a mãe publica no seu facebook. A empresa não censura, os comentários são todos de apoio.  Tanta coisa para reflectir... A terceira ideia que tive veio de alguns comentários que li. Eram comentários de apoio,

Boundaries II

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Foto de Weather Witten https://www.facebook.com/heatherwhittenphotography/posts/10154233751958274:0 http://ionline.sapo.pt/511028 A polémica estalou quando o facebook censurou a publicação desta foto. Aparentemente houve reacções de choque. O que veio a seguir foram as reacções de apoio. Não contarei a história, que podem ler nos links, mas resumidamente, um pai tenta consolar o seu filho doente, com diarreia, vómitos e febre persistentes, e a mãe fotografa e publica no seu facebook.  Reprodução The Barefoot Mum - foto de Kelli Banister http://www.paisefilhos.com.br/pais/foto-e-desabafo-viralizam-ao-mostrar-um-dos-lados-dificeis-da-maternidade/ Um cenário semelhante, mas aqui uma mãe com a sua filha doente, a foto é tirada pelo filho de 5 anos e a mãe publica no seu facebook. A empresa não censura, os comentários são todos de apoio.  Tanta coisa para reflectir... A segunda ideia que tive fez-me lembrar de uma foto da minha infância. A foto foi tirada quan

Boundaries I

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Foto de Weather Witten https://www.facebook.com/heatherwhittenphotography/posts/10154233751958274:0 http://ionline.sapo.pt/511028 A polémica estalou quando o facebook censurou a publicação desta foto. Aparentemente houve reacções de choque. O que veio a seguir foram as reacções de apoio. Não contarei a história, que podem ler nos links, mas resumidamente, um pai tenta consolar o seu filho doente, com diarreia, vómitos e febre persistentes, e a mãe fotografa e publica no seu facebook. Reprodução The Barefoot Mum - foto de Kelli Banister http://www.paisefilhos.com.br/pais/foto-e-desabafo-viralizam-ao-mostrar-um-dos-lados-dificeis-da-maternidade/ Um cenário semelhante, mas aqui uma mãe com a sua filha doente, a foto é tirada pelo filho de 5 anos e a mãe publica no seu facebook. A empresa não censura, os comentários são todos de apoio. Tanta coisa para reflectir... A primeira, a nossa reacção instintiva diferente às duas fotos. A foto da mãe "encaixa"

Separação dos pais do Francisco

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A prova Era Uma Vez apresenta o início de uma história e pede à criança para inventar a sua continuação. Uma das histórias tem o pai e a mãe a discutir. Francisco (nome fictício), 7 anos, tem os pais separados. Conta a seguinte história: "Como o menino percebeu que os pais estavam muito zangados um com o outro, tentou impedir os pais mas os pais disseram 'Deixa os pais tratarem do assunto'. Mas depois o menino começou a chorar muito e depois de tanta choradeira e tanta discussão os pais tiveram um acordo e o pai disse o acordo ao menino e ficou tudo bem. Depois o menino foi ver bonecos e descansado que os pais não estavam a discutir e iam fazer uma coisa muito boa." A separação dos pais é sempre um momento de crise e de perda. Mas quando os adultos "tratam do assunto" e arranjam "um acordo", é possível reorganizar a vida. Francisco é um menino vivo, conversador, com sentido de humor e boa capacidade de aprendizagem na escola. Francisco pas

A lésbica (?)

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A Antónia (nome fictício) é lésbica. Tem à volta dos 60 anos e teve a sorte, rara na sua geração, de ter uma família que sempre aceitou, sem qualquer problema, esta parte da sua identidade. Antónia procurou apoio psicológico porque não estava bem. A sua relação terminou, teve problemas de saúde que a deixaram incapacitada, sente dificuldade em refazer a sua vida. A Antónia é lésbica mas isso não é o mais importante nas nossas conversas. O importante é a relação terapêutica que estabelecemos e que permite que o trabalho terapêutico avance. A sua homossexualidade é importante como pano de fundo, como são muitas outras coisas que me ajudam a construir o mosaico da estrutura do seu psiquismo. Na boca de cena, o dia-a-dia, o passado próximo que a roubou de tanto, as dúvidas sobre o futuro, o medo de arriscar outra relação. Nas nossas conversas, a Antónia não é a lésbica - a Antónia é a Antónia, na sua maravilhosa e humana complexidade. Nas suas palavras: "as pessoas às vezes não a

Explicar a psicologia a crianças

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Fui à escola do meu filho falar sobre o que faço profissionalmente. Preparava-me para ter de explicar como é que se produzem mudanças pela brincadeira ou pela conversa. Mas não. Parece que essa é dúvida de adultos e não de crianças. Gostei particularmente de quando disse que o psicólogos não podem dar consultas aos familiares e amigos, e um menino diz "Mas a minha psicóloga é minha amiga!" Perguntei se já era amiga antes de ser psicóloga dele, ele disse que não, e eu acrescentei que então isso era bom, porque convém nós nos sentirmos bem com o nosso psicólogo. Noutro tom, mais de um menino disse estar muito preocupado com os pais que se separaram, ou que eles e os familiares ficaram tristes quando alguém morreu. O melhor de tudo foi a aceitação de que isto de ir ao psicólogo é uma coisa normal, que todos nós podemos precisar. Muito mudou desde que entrei na faculdade, em 1992, altura em que algumas pessoas ainda reagiam com um misto de desconfiança e

A cama dos pais - parte III (e última)

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Henri de Toulouse - Lautrec  "Le Lit" Nos dois primeiros textos falei do período de vida até aos 6 meses. O que acontece depois desta fase? Até aqui os autores referem-se maioritariamente a uma relação entre mãe (ou quem faz o seu papel) e bebé. Mas todos sabemos como a existência de um pai é saudável e organizadora para as crianças. É a partir dos 6 meses, quando o bebé já está apto a de facto se relacionar com os outros e o mundo, que o foco passa a estar na tríade - no 3.  Portanto, o bebé passou da fase de dependência absoluta para a fase de dependência relativa (Winnicott). Ele comunica as suas necessidades à mãe para que esta as venha satisfazer. Sente a ausência, sente o desejo, "chama", e a mãe responde. É quando estes mecanismos estão bem estabelecidos que o bebé está pronto para lidar com aquilo a que na psicanálise se chama a triangulação. O triângulo é constituído por mãe, pai e filho. E é a partir desta tríade que o bebé começa a organi

A cama dos pais - parte II

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In Bed de Claude Le Boul - oil on canvas Na parte I falei de como se caracteriza psicologicamente o recém-nascido, num estado de pré-existência psíquica, ainda sem se diferenciar do mundo e dos outros. Até aproximadamente aos 6 meses de idade, o bebé apenas foi capaz de se relacionar com o que Spitz chama de pré-objectos - a mãe não é uma entidade inteira, é a mãe boa que sacia as necessidades e a mãe má que as frustra. Klein chama a isto, simbolicamente, o seio bom e o seio mau. O bebé, ainda não sendo um Eu psíquico uno, também ainda não consegue integrar as experiências de prazer e desprazer num objecto exterior único. Com a repetição das experiências, estas começam a ser integradas através da memória, e o bebé começa a conseguir integrar os pré-objectos bons e maus e constituir uma imagem de mãe una - boa e má ao mesmo tempo. É aqui que o bebé começa de facto a relacionar-se, pois já se sente um Eu diferenciado do exterior - só na existência de um Eu e um Tu pode haver

A cama dos pais - parte I

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Pintura de Safet Zec Toda a gente tem uma opinião. Além da opinião, muita gente tem filhos e os filhos são todos diferentes, mesmo os dos mesmos pais. A uns (pais) sabe melhor ter os filhos na cama, a outros pior. Mas o que me traz a escrever sobre este tema é que, a meu ver, falta informação a esta discussão.  Não quero vir trazer nem receitas, nem manuais, nem dizer o que está certo e errado. Pretendo tentar esclarecer porque os psicólogos e os pediatras falam do marco dos seis meses, o que acontece antes e depois, e esperar poder contribuir para que cada um, pai e mãe, possa decidir. Comecemos pelo início, então. O bebé nasce. Nasce biologicamente no momento do parto, momento em que pode viver fisicamente separado da sua mãe biológica. Mas o ser humano que ali nasceu ainda não o é no pleno sentido do ser psicológico. Ou seja, o bebé nasce mas não sabe que nasceu, não sabe que existe, que tem uma pele que o separa do mundo e dos outros. Nasce num estado a que difer

Meninas, meninos e Happy Meal

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Estalou a polémica. De um lado, a defesa de igualdade de direitos, da não discriminação, da liberdade de se ser o que se é (principalmente quando o que se é não encaixa na dicotomia vigente). Não queremos meter as crianças nos moldes habituais, forçá-las a encaixar em estereótipos, não queremos que se sintam mal por sentirem que a sociedade não as entende ou às suas escolhas e preferências. Por isso... não queremos brinquedos de menino e brinquedos de menina. Do outro lado quem acha que isso são preciosismos exagerados, que as crianças escolhem naturalmente os brinquedos de menino e de menina, e que se continuamos por aí fora temos de abolir as secções de roupa de homem e de mulher. Sou absolutamente a favor do não preconceito, da liberdade e principalmente da verdade interna. Como psicóloga é para isso que trabalho - para que cada um conheça, aceite, ame e viva livremente a sua verdade interna. Nem consigo conceber como a psicologia poderá ter outro objectivo (excepções fei