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A Ordem dos Psicólogos Portugueses olhou para a realidade e constatou: existem 601 psicólogos no Serviço Nacional de Saúde. Segundo as recomendações internacionais devia existir um psicólogo por cada 5000 habitantes. Feitas as contas, faltam cerca de 1600 psicólogos nos hospitais e centros de saúde. A situação é grave, considerando que Portugal é dos países com maiores taxas de doença mental, nomeadamente ansiedade e depressão. 

Estes são os factos. Quais as opiniões? Tristemente ainda prevalece uma certa ideia de que isso da psicologia é uma coisa "inventada", que antigamente não precisávamos disso para nada, que aquilo a que chamamos bullying e déficit de atenção são as coisas normais que as crianças de antigamente faziam e ninguém se preocupava. Que para essa coisa da ansiedade basta relaxar e para a da depressão uns copos ajudam. Concordo. Sempre existiu gente infeliz e com problemas. Concordo que actualmente damos importância a coisas que antigamente ninguém ligava. E sobrevivíamos. Como aquelas coisas que correm na net sobre a nossa geração que não usava cinto de segurança no carro. Sim, sobrevivemos, quer dizer, alguns morreram, mas não fomos nós pois não? 

Depois há aquelas opiniões das prioridades. Se o povo tem fome, precisa de pão e não de arte e de felicidade. Ah, espera, isso se calhar não devia dizer... misturar coisas como paz, o pão, habitação, saúde, educação. Liberdade. 

Liberdade, paz, saúde, não são só coisas de fora, são coisas de dentro, são coisas humanas, psicológicas, por mais que alguns de nós não gostemos de lhes dar esse nome. O mundo gira e muda e a humanidade evolui, cria novas necessidades e novas possibilidades. É verdade que ninguém se preocupava com a infelicidade e a doença mental - esse palavrão era deixado para os maluquinhos que se enfiavam em asilos. Os outros que se amanhassem, com a bênção de Deus, muito trabalho, o silêncio das mulheres, o embriagar dos homens e as tareias dadas às crianças.

O mundo gira e muda e queremos mais e melhor. Queremos mais coisas, verdade, mas queremos essencialmente mais vida, mais bem-estar, mais sentido de plenitude, de verdade, de comunhão, de humanidade. Queremos o melhor para nós e para os nossos, divorciamo-nos porque não estamos felizes, casamos porque nos deixamos apaixonar mais uma vez, mudamos de empregos, lançamo-nos em aventuras, queremos os amigos perto, os filhos de cuca legal. E vamos ao psicólogo. Quer dizer, alguns de nós vamos, os que podemos pagar. Porque as prioridades do Estado são outras. Seremos nós estranhos?





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